quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Da Morte ao Mito convida: Gabriel Innocentini fala sobre Bob Dylan

O Da Morte ao Mito convida estreia em grande estilo, com o texto do recém bacharel em jornalismo,  Gabriel Innocentini. Ele fez uma pesquisa intitulada “Os efeitos de sentido nos textos de Bob Dylan: mito ou ídolo?”, que virou assunto de sua monografia para conclusão do curso.

E é sobre isso que ele vai falar no texto abaixo. Deliciem-se!
O ídolo e o mito
É só falar em Bob Dylan para as pessoas associarem à personalidade à sua imagem dos anos 60: primeiro, o cantor folk de camisas xadrez e violão em punho, considerado o porta-voz de sua geração, identificado com o movimento dos direitos civis. Depois, o roqueiro, capaz de influenciar decisivamente os Beatles, levando uma vida alucinada de drogas, turnês e confrontos com o público, que não admitia a guinada musical de seu guru. Bob Dylan havia trocado o violão pela guitarra elétrica em 1965, causando a ira dos fãs.

No entanto, em toda sua longa carreira – mais de 450 composições originais, mais de 60 milhões de discos vendidos – Dylan sempre negou ser um cantor de protesto. Em minha pesquisa, procurei investigar os motivos que levaram o músico a se posicionar desta maneira, refutando enfaticamente o papel de Voz de sua Geração.

Para isso, adotei a linha semiótica e da análise do discurso, o que permite analisar as letras e entrevistas de Bob Dylan, verificando se elas reforçam o mito de ídolo/herói de uma geração, tendo em vista o contexto sócio-histórico da época e do papel assumido pelo compositor em suas falas.

O estudo aprofundado de sua biografia, do contexto dos anos 1960, e a análise dos procedimentos discursivos adotados por Bob Dylan em suas letras e em suas entrevistas permitiram a observação de que há grande coerência no que ele diz e no que ele faz. A recusa em aceitar os papéis impostos pelos meios de comunicação e pelo público expressa uma aguda consciência de como lidar em liberdade com as expectativas depositadas em sua figura. Ao se descolar dos rótulos, não se deixando manipular – ou, antes, reagindo à tentativa de manipulação –, Bob Dylan mostra muita habilidade nesse jogo.

Apesar de sempre negar ser um cantor de protesto, suas canções são evidentemente de protesto. Basta analisar detidamente composições como Blowin’ the wind e Masters of war, para ficarmos em apenas duas. Os comentários sociais denunciam a miséria e a pobreza de setores da sociedade norte-americana, humanizando os personagens, enquanto outros textos pretendem conscientizar o ouvinte sobre a situação de mudança pela qual a sociedade está passando naquele momento.

Como, então, explicar este contraste? Ao agir dessa maneira, Bob Dylan se protegia tanto do público quanto da imprensa, manifestando certo grau de controle sobre sua imagem. No entanto, Dylan não pode ser caracterizado como herói, visto que não redime sua comunidade, preferindo seguir sua convicção estética e artística, dando um novo rumo a sua carreira ao partir para o estilo do rock. Seu mito, comparado em minha pesquisa a outros mitos da história do rock, principalmente aos Beatles, pode ser melhor entendido tendo em vista os conceitos de xamã e de ídolo, isto é, a representação material de algo imaterial.

A conclusão que cheguei com o estudo foi que ele conseguiu criar uma persona identificada com o movimento folk, com canções de protesto, que teve posição marcante num contexto de revolução de valores comportamentais, detonado pela parcela jovem da população. Contudo, a maneira encontrada para continuar seguindo seu desenvolvimento artístico foi não se limitar a ser um cantor de protesto, o que o obrigou à criação de uma nova máscara – a de roqueiro, com um ritmo de vida ditado pela aventura, pelas drogas e pelo álcool.

Você também tem um ídolo e gostaria de falar dele no Da Morte ao Mito? Envie um email para demaria.cinthia@gmail.com e participe!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente esse post