quarta-feira, 30 de junho de 2010

Mito que é mito sobrevive de tributos - Entrevista com a banda Nevermind

Essa semana, o site The Rock Wall publicou uma entrevista que eu fiz com o pessoal da banda Nevermind, que é o cover oficial do Nirvana em Belo Horizonte.

Em uma descontraída conversa os meninos me contaram qual é o sentido de representar uma das maiores bandas do mundo e ainda passar pelo crivo de comparações com o grande ícone Kurt Cobain.

Uma pequena amostra:

Rock Wall - Qual é para vocês, a representação do Nirvana no mundo?
Marco: Para a nossa geração que era adolescente no início dos anos 90, o Nirvana é quase uma unanimidade. Talvez as novas gerações não consigam compreender exatamente o que foi o Nirvana, pelo contexto histórico, tecnológico e cultural em que vivemos hoje.

Pablo: Pra mim, é o que está escrito naquela capa da Rolling Stone do ano passado com o Kurt na capa. Ele foi o último ídolo do rock. O rock hoje é muito certinho, bonzinho e comportado. Escuto rock desde os 4 anos de idade e na minha cabeça é o oposto disso.


Rock Wall - Há muita comparação com a banda original?
Marco: Inevitavelmente sim. Mas vejo isso como um fator positivo, guardadas as devidas proporções. Apesar de eu ter um biótipo semelhante ao do Kurt Cobain, o nosso foco é o som e a música. Pessoalmente, sou um pesquisador da história do Nirvana e especialmente do Kurt. Procuro informações sobre os pedais e efeitos que o Kurt usava, amplificadores, afinações alternativas, e coisas do tipo... Tenho contato com o Jack Endino, que é o engenheiro que gravou o Bleach (álbum do Nirvana) e vários outros registros da banda. Apesar dele odiar perguntas sobre o Nirvana, às vezes ele compartilha algumas informações preciosas.
O Nevermind tenta ser o mais fiel possível ao original. Apesar disso, eu interpreto o Kurt. Não tento copiá-lo porque sei que não conseguiria, mesmo que eu quisesse.

Pablo: Com certeza, e muitos elogios e críticas construtivas! Parece que tocar Nirvana gera um sentimento (bom) de saudosismo, boas recordações... Tem gente que não acredita que está ouvindo uma banda tocar Nirvana. Teve uma menina que chorou na frente do palco.

Tirem as suas próprias conclusões.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Clube dos 27: coincidência ou carma?

O mundo viveu e conheceu a história de alguns dos artistas que mais ganharam notoriedade na história da música e que coincidentemente morreram aos 27 anos. A pergunta é: será uma mera coincidência ou um carma do rock?

Mais difícil do que responder a essa pergunta é conseguir não deixar de temer a morte de grandes ídolos - embora a maioria dos ícones que ainda nos restam já passou dessa idade (Ufa!). O mais intrigante é que grande parte dos músicos que fazem parte do Clube dos 27 morreram de formas misteriosas ou inesperadas.

Quem morreu?
Vamos aos fatos, para depois passar para os argumentos:

- Conhecido como um das personalidades mais importantes do blues, Robert Johnson (08/05/1911 – 16/08/1938) viveu tempo suficiente para servir de influencia para músicos como Jimi Hendrix,  Bob Dylan e Eric Clapton. Além do mito que Johnson vendera sua alma ao diabo na encruzilhada das rodovias 61 e 49 em Clarksdale, Mississippi,  em troca da proeza para tocar guitarra, há inúmeras versões sobre a morte desse ícone. Segundo os ‘ditos”, Johnson pode ter morrido envenenado por whisky, sífilis e vários outros. A causa da morte ainda é desconhecida, por não ter tido um atestado de óbito certificado por um médico.

- Brian Jones (28/02/1942 – 03/07/1969) foi encontrado afogado na piscina de sua casa. O ícone, também um dos fundadores do grupo Rolling Stones, teve sua vida e morte abordada no filme Stoned, (2005), que revela que a morte de Brian foi causada por Frank Thorogood, um dos empreiteiros que trabalhava em reformas na casa de Brian. Frank confessou o crime em 1993 em frente ao túmulo de Brian.

- Considerado como o maior guitarrista de todos os tempos, Jimi Hendrix (27/11/1942 – 18/09/1970) também deixou esse planeta por uma morte bastante estranha. O músico foi encontrado na cama do quarto de um hotel onde estava com uma namorada alemã, Monika Dannemann, desacordado após ter tomado nove pílulas de Vesperax (forte analgésico), tendo, em seguida, se asfixiado em seu próprio vômito.

- A lendária Janis Joplin (19/01/1943 – 04/10/1970) morreu de overdose de heroína em 4 de outubro de 1970, em Los Angeles, Califórnia. Conhecida pela sua voz marcante, a cantora fez de seu nome uma lenda nos anais da música, tanto pelo talento como por suas loucuras.

- Que atire a primeira pedra quem viveu a década de 70 sem se revoltar pela morte de Jim Morrison (08/12/1943 – 03/07/1971). O cantor, compositor e autor de grande parte das músicas do The Doors morreu na banheira. Muitos fãs e biógrafos especularam sobre a causa da morte, se teria sido por overdose, embora Jim não fosse conhecido por consumir heroína. O relatório oficial diz que foi “ataque de coração” a causa da sua morte.

- Kurt Cobain (20/02/1967 – 05/04/1994) fecha a lista do Clube dos 27, até então. O compositor, guitarrista e cantor conhecido por liderar o movimento grunge morreu sob suspeita de suicídio com uma espingarda em sua boca, em sua própria casa. A autópsia encontrou traços de benzodiazepinas (tranquilizantes) e heroína no sangue de Kurt.

Os argumentos:


Coincidências: além de morrerem aos 27 anos, todas as personalidades listadas no Clube dos 27 despediram-se do mundo no auge da carreira, deixando o mundo das celebridades para tornarem-se mitos. Os seis foram grandes influências midiáticas, construíram um legado de seguidores musicais e até hoje são considerados referências para vários artistas. Todas as mortes foram coincidentemente consideradas “estranhas” por estarem fora do padrão de simplesmente exacerbado consumo de drogas, como é taxado à maioria das celebridades do rock.

Carma: depois do último ícone da lista do Clube dos 27, Kurt Cobain, não houve nenhuma personalidade que “revolucionasse” o rock (depois desta data). Obviamente que no meio do caminho, várias figuras importantes fizeram parte da construção dessa história, como Ronnie James Dio, Joey Ramone, John Lennon, dentre tantos outros. Mas nenhuma figura recente mudou a história do rock depois de Kurt Cobain. Todos os ícones do Clube dos 27 morreram no auge da carreira, o que decepcionou vários fãs que nunca puderam assistir aos shows desses artistas.

Bom, sendo trágico ou não, essas personalidades morreram jovens, mas deixaram as suas marcas na história do rock, na memória de muitas pessoas e na influência de outras tantas bandas que vem surgindo por aí.

Veja também: The Rock Wall

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Cazuza: gênio antes de mito

No meio de tantos mitos da música que deixam as suas carreiras e fãs depois de experimentarem o auge do seu estrelato, não poderia deixar de falar do ícone que deixou esse planeta para se tornar um dos seres mais queridinhos do Brasil. Agenor de Miranda Araújo Neto, mais conhecido como Cazuza foi cantor e compositor considerado símbolo da sua geração enquanto vocalista e principal letrista da banda Barão Vermelho.



Morto em 7 de julho de 1990, o ícone autor de canções como "Exagerado", "Codinome Beija-Flor", "Ideologia", "Brasil", "Faz Parte Do Meu Show", "O Tempo Não Pára" conquistou o auge de sua carreira no final do século XX, ao lado de Frejat e Barão Vermelho. Cazuza sustentou sua imagem no meio de várias polêmicas, que envolviam rebeldia, sexo, bissexualismo e doença.

O ídolo que virou mito se enquadra na categoria dos “mitos trágicos” que garantem a eternidade de sua imagem por serem “injustiçados pela vida”, justo quando alcançam o momento ‘clímax’ da carreira. Antes de morrer, Cazuza sofreu o preconceito da sociedade por ser soropositivo. Quando morreu, virou vítima e em pouco espaço de tempo, já era um dos seres mais respeitados do mundo da música brasileira – e ainda é.

A aids e o bissexualismo eram considerados um tabu, até o ‘grande ser’ se tornar vítima desses acontecimentos. Cazuza provou que não é preciso ser certinho ou andar completamente dentro da lei, para fazer composições extraordinárias. Afinal, os grandes gênios nunca foram lá tão normais.

Cazuza, que hoje é uma referência musical de quem o Brasil se orgulha, deixou 126 canções gravadas, 78 inéditas e 34 para outros intérpretes, em apenas nove anos de carreira. As canções de Cazuza já foram reinterpretadas pelos mais diversos artistas brasileiros de diferentes gêneros musicais.



Em merecida homenagem ao grande ícone, a Som Livre realizou o show Tributo a Cazuza em 1999, posteriormente lançado em CD e DVD, do qual participaram Ney Matogrosso, Barão Vermelho, Engenheiros do Hawaii, Kid Abelha, Zélia Duncan, Sandra de Sá, Arnaldo Antunes e Leoni. No ano 2000 foi exibido no Rio de Janeiro e em São Paulo o musical Casas de Cazuza, escrito e dirigido por Rodrigo Pitta, cuja história tem base nas canções de Cazuza.



Em 2004 foi lançado o filme biográfico Cazuza - O Tempo Não Pára de Sandra Werneck.

Os lançamentos provam o quanto o ídolo se torna mito após a morte. O caso Cazuza nos leva a crer que muitas vezes personalidades surgem exatamente para provar para a sociedade que atrás de muitas mentes doentias existe uma sabedoria, que vai muito além dos princípios aprendidos dentro de quatro paredes.

Veja também: The Rock Wall