Morra jovem, permaneça belo, diria Kurt Cobain antes de morrer. Mas por que as celebridades desejam morrer tão cedo? No ano passado, fiz um estudo sobre o assunto, partindo de teorias de vários autores para tentar chegar a uma conclusão.
Muitos acreditam na psicologia da alma humana, que faz com que as celebridades estejam mais expostas aos problemas e à pressão da sociedade. Outros explicam os fenômenos aliados à rebeldia e às drogas. Pois bem, vamos às opiniões deles.
Edgar Morin, em seu livro O homem e a morte, afirma que a evolução cultural da sociedade em como tratar a morte parte também do saber. Progressos técnicos, econômicos e sociais fazem com que as pessoas passem a ser governadas pelas leis, ao mesmo tempo em que se afastam de sua naturalidade, fazendo com que fenômenos naturais ao ciclo da vida, como a morte, torne-se algo insolúvel, conflitante.
Antonio Fausto Neto, no livro Mortes em derrapagem, propõe uma discussão acerca da questão da morte dos olimpianos na comunicação de massa. O autor diz que os olimpianos funcionam como uma “máquina significante” que se define como representação social. Fausto Neto diz que a mídia constrói a noção de morte de determinados segmentos dos olimpianos.
Para ele, celebridades viram “mercadorias” por se tornarem objeto de identificação, projeção e imaginação do campo de recepção. O autor reitera que a morte de celebridades transforma-se em produtos da indústria cultural, que dão forma ao discurso como mercadoria e à construção de funcionamento dos processos identificatórios da psique humana e de semantização da vida social, enquanto retratada pela mídia.
Em seu livro Morreu na contramão: o suicídio como notícia, Athur Dapieve analisa como o suicídio é tratado na imprensa e a dificuldade que a sociedade tem para lidar
com o tema. Para especificar ainda mais a suspeita morte por suicídio, no caso de Kurt Cobain, por exemplo, o autor começa definindo que a morte voluntária não é algo extraordinário, mas que a imprensa o expõe como tal.
Segundo Dapieve, existem razões lógicas para o suicídio, que causam culpa em familiares e amigos próximos ao morto. Em torno da notícia costuma haver um silêncio derivado das crenças de que o suicídio pode ser contagioso, uma vez difundido nos meios de comunicação de massa. Por sua experiência em veículos brasileiros, Dapieve percebeu que a imprensa é determinada pela visão que os leitores têm da morte voluntária. Logo, a imprensa não seria o “vetor” do contágio, mas a estância social que o sustenta. Dapieve afirma que os vínculos entre uma imprensa livre e sua sociedade são indissolúveis.
Daí eu questiono: a mídia tem ou não tem papel crucial nessa história?
Nota: Esse texto é parte do artigo científico que produzi para a Universidade Feral de Minas Gerais (UFMG), em 2009, intitulado “A morte do personagem midiático - Um estudo sobre Kurt Cobain na revista Rolling Stone Brasil, 15 anos após o seu suicídio”.
Quer ler o artigo na íntegra? Baixe aqui.
Prêmio: Selo de qualidade, Te repasso o selo, veja como funciona : http://anagramadesonhos.blogspot.com/2010/11/ritual-do-selinho.html
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