quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Novas bandas: independente por que?


As novas bandas que surgem a cada segundo nos mais variados locais do mundo são chamadas de “bandas independentes”. Mas será que essa nomenclatura condiz com a realidade?

Ok, teoricamente a terminologia faz sentido no âmbito burocrático de registro. As bandas chamadas de independentes são bandas sem vínculo com grandes gravadoras. São grupos que não estão atrelados a nenhum tipo de empresa mainstream, e usam 99% das vezes, a internet como principal meio de divulgação de seu trabalho. Sabemos também que esse mercado qualifica estilos musicais, assegura estereótipos e é uma esperança a mais para quem quer ser músico, mas não tem condições financeiras para se lançar ao público.

Não tenho nada contra as bandas independentes. Pelo contrario. Apoio, ajudo a divulgar, participo de festivais do gênero e acho até que muitas delas superam inigualavelmente ao que temos visto fazer sucesso por aí. Porém, não compartilho da ideia de que são independentes. Arrisco dizer que elas são tanto quanto (pra não dizer mais) dependentes do que as bandas “regulamentadas”.

Vamos ver porque?

As novas bandas dependem:
- De divulgação: muito mais do que os grupos que contam com apoio de gravadores, que conquistam patrocínio e a visibilidade é muito maior, graças à verba de publicidade investida;
- De reconhecimento: é muito mais difícil convencer uma pessoa a ir num festival de música nova, do que ir a um bar onde “já se conheça todas as músicas”. Muitas vezes, novas bandas conseguem sobressair a partir de covers de outros grandes grupos.
- De público: essas bandas nunca irão sair do “Lado B” se não conseguirem provar para grandes gravadoras do que são capazes;
- De argumento: não é fácil provar que “é legal estar no mercado independente”;
- De esperança: afinal, se não acreditam que um dia pode dar certo, é melhor desistir antes de montar
- E de sucesso, porque afinal, a maioria delas merece, e muito!

Será que o Brasil está pronto pra isso?

O Brasil tem público, mas não tem organização suficiente para fazer desses artistas grandes nomes nacionais. Basicamente, a situação financeira conta muito para essa divulgação. Após a revolução digital e a inclusão de qualquer pessoa na web ficou ainda mais difícil qualificar as bandas, devido à grande quantidade e à pouca qualidade do que temos visto por aí.

O brasileiro também não tem a cultura de valorizar novas coisas, se não estiver divulgado na grande mídia de massa. De quem é a culpa? Da nossa educação cultural, em primeiro lugar. Damos mais valor à reality shows do que em grandes artistas. A banalização e disseminação de programas culturais “não pensantes” acomoda o brasileiro de tal forma, que se tiver shows em praça pública de musicistas renomados, ele prefere ficar em casa assistindo à telenovela.

Muita gente gosta de dizer que “música boa é música antiga”. Será que é porque antigamente as pessoas davam mais valor ao que acabava de nascer? Grupos como Ramones, Nirvana e até o próprio Cazuza (já que estamos falando de Brasil) e outros surgidos até a década de 1990 tinham tudo pra dar errado. Eles eram rebeldes e depunham contra ao conservadorismo da sociedade. Porém, o público parava pra ouvir muitos deles, que mal tinham recursos financeiros para comprar equipamentos.

Portanto, esse texto não é para discutir simplesmente o nome independente. Proponho aqui uma reflexão que vai muito além. Novas bandas com bom potencial dependem muito mais de você empresário, gravadora, mídia e público, do que muitos grupos que tem feito a cabeça dos nossos jovens por aí.

Pensem nisso!

2 comentários:

  1. Perfeito seu post, Cínthia! Esse é o pensamento que venho tendo há alguns anos. Não sei tb o porque do "independente".

    E sobre a dificuldade de difundir o "independente", também concordo. Temos um bom público, mas online. Tornar esse público offline, fazer com que eles compareçam aos shows tem sido o nosso maior desafio.

    Tinham que existir ferramentas para que o novo fosse mostrado ao grande público. Uma delas é a ocupação de espaços públicos. Com certeza, e mcada cidade desse país, existe um espaço público qualquer subutilizado. Imagine poder acontecer nesses lugares eventos periódicos, com artistas novos de todas as áreas, não só da música?

    Sonhemos..

    Christian garcia, vocal do Bleffe

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  2. Apoiado, Christian! Vamos levantar essa bandeira para que as pessoas se conscientizem sobre o fato. O Brasil tem potencial e público. Basta ter reconhecimento!

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