domingo, 25 de março de 2012

Tecnologia soma ou subtrai a qualidade musical? Dave Grohl responde

Por Daniel Duque (@danielduque)

Há muito tem se discutido sobre a questão dos prós e contras das novas tecnologias digitais para a gravação de músicas. Afinal, nesse nosso museu de grandes novidades, há o eterno confronto entre o velho e o novo, o clássico e o revolucionário e não haveria de ser diferente com a música. A questão: os novos recursos digitais vieram para somar ou subtrair ao mundo da música?

O debate, que inclusive já vinha a apresentar sinais de desgaste, ganhou novo fôlego com uma nova postura tomada por Dave Grohl, fundador dos Foo Fighters, que era conhecido por suas ideias liberais sobre a música. O também ex-baterista do Nirvana gravou o último álbum de sua atual banda, batizado de 'Wasting Light', em sua garagem, tudo em gravadores analógicos. Tendo ganhado quatro Grammys pelo disco, Dave, durante a premiação, proferiu o seguinte discurso:

“Para mim, esse prêmio significa muito, porque mostra que o elemento humano da música é o que realmente importa. Cantar em um microfone, aprender a tocar seu instrumento... são essas as coisas mais importantes que as pessoas podem fazer. Não é uma questão de ser perfeito, não é uma questão de soar absolutamente correto, não é sobre o que rola em um computador. É sobre o que acontece aqui dentro [o coração] e aqui dentro [a cabeça].”




Apesar de ter tentado se explicar após toda a polêmica que tinha causado, o vocalista do Foo Fighters mostrou claramente sua postura anti-digital. Até mesmo antes de gravar o disco, ele já havia dito: “quando eu escuto música hoje em dia e eu ouço Pro Tools [programa de computador usado para gravações] e baterias que soam como uma máquina – isso meio que tira a vida da música”.

Apesar dos protestos de muitos, Dave Grohl não está sozinho em sua análise. John Frusciante, ex-guitarrista do Red Hot Chili Peppers, é averso a sons produzidos em computador e possui um poderoso equipamento analógico em seu home studio, incluindo sintetizadores, gravadores de 24 canais e mais uma infinidade de microfones. Afirma ele que “o que determina a impossibilidade dos CDs gravados hoje em dia de serem tão bons como, por exemplo, o Led Zeppelin II, é o fato de que hoje os instrumentos estão plugados diretamente no computador, sem captar a vibração do ar”.

Pode-se ver, de fato, muitos artistas abusando dos recursos digitais e retirando suas características essenciais de seus próprios sons. Além disso, em uma gravação digital há a conversão para um certo número de bits, que, quanto menos utilizados, menor será a qualidade do som. É preciso ter cuidado na hora de utilizar tais recursos. Mas o que artistas do peso como Dave Grohl e John Frusciante talvez não levem em conta seria a grande democratização que a gravação digital proporcionou ao meio musical.

Temos, em primeiro lugar, a grande simplicidade e eficiência de programas como, por exemplo, o Pro Tools, que permite ao músico utilizar técnicas de gravação que antigamente apenas engenheiros musicais muito bem pagos poderiam fazer. Além disso, há a diferença abissal de preços entre gravadores digitais e analógicos. Isso permitiu que muitos músicos amadores e profissionais pudessem gravar suas músicas em casa e, aliados à internet, pudessem divulgá-las. Afinal, bandas hoje importantes na história da música, como os Artic Monkeys, começaram assim.

Todas essas novas possibilidades geraram uma revolução musical nos anos 2000, que assistiram ao declínio das grandes gravadoras e à massiva proliferação de músicos independentes. Grandes ídolos da música, como Gilberto Gil, já perceberam essa mudança positiva e hoje são entusiastas das novas mídias digitais (o ex-ministro da cultura inclusive já comparou esse fenômeno com a Revolução Francesa). O que se pode afirmar então é que os novos recursos, tanto de gravação como de reprodução, apesar de suas armadilhas, superaram muitas barreiras e hoje triunfam como os grandes popularizadores da música atual.

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